O ponto de partida é uma memória afetiva. O banheiro sempre foi o local primordial de refúgio, local de invisibilidade, mais que debaixo da cama ou dentro do guarda-roupas. Lugar de intimidade, do corpo nu reservado dos olhares proibidos. Em que momento veio a proibição de vermos os corpos nus uns dos outros? Pai, mãe, irmãos... “E quem te fez saber que estavas nu?” Lugar de sujeira, de excrementos, de secreções. Lugar de descarga, de limpeza, de purificação. A caixa de descarga também é uma lembrança afetiva. Seu posicionamento inacessível, os sons que dela emergiam, a sua função escatológica. Já era um elemento presente em desenhos e pinturas durante eu processo de criação. Contudo, toda essa essa carga veio a tona em materialização estética quando, no ano de 2016, usando um banheiro de bar em Coronel Fabriciano-MG, me deparei com uma caixa de descarga à altura dos meus olhos, como um espelho. Fiz um registro. Desde então sigo colecionando fotos desse artefato rudimentar, mas ainda muito utilizado, que compartilha comigo a intimidade de muitos outros.